26 de março de 2009

Pra não dizer que não falei das flores


Assistia a TV, quando anunciaram com todo o destaque bombástico e característico da parafernália televisiva, uma entrevista com uma personalidade do jornalismo contemporâneo. Tratava-se de um dos maiores âncoras do telejornalismo norte-americano. Não pestanejei, apanhei uma boa xícara de café e me propus a assistir.
A jornalista entrevistadora não dispensou a oportunidade de demonstrar seu vasto repertório a um ilustre colega de trabalho e foi logo despejando questões delicadas como a paz mundial, o apartheid e as mazelas latino-americanas. Mal permitia que o entrevistado raciocinasse tranqüilamente e já lhe artodoava ao exigir fórmulas práticas sobre questões políticas, econômicas e sociais compreendidas não só ao país do pobre jornalista, mas, em relação ao mundo. O desgaste estampado no rosto do entrevistado era nítido, aquilo que deveria ser um agradável bate-papo sobre suas preferências, opiniões e trajetória profissional, tornara-se uma situação incômoda e infindável.
As respostas ora longas e ditas com sorrisos e olhares atenciosos deixavam a cena para dar espaço a respostas curtas e despreocupadas com o vocabulário empregado. Isso sem falar, naquelas respostas que serviam de notórias e indiscretas deixas para a revelação da desagradável situação. Em uma dessas mesmas respostas, ultrapassada as barreiras do protocolo, o jornalista a desafiou: - Sabe o que eu mais gosto de fazer?
Ela enrubesceu no mesmo instante. Como o entrevistado já domado e situado no seu estado de inércia, ideal para jornalistas do tipo “dominadores”, se atrevia a responder uma de minhas questões com uma outra indagação? E o pior sobre suas preferências cotidianas. Não, isso definitivamente era um desrespeito a categoria, pensava ela.
Para não demonstrar aflição e desconforto, lançou uma tática infálivel:
- Como disse?
Ele não se intimidou.
– Lhe perguntei se você sabe o que mais gosto de fazer.
Não restando-lhe escapatórias, ela respondeu um tímido não.
Como que tomado pelo ânimo inicial presente na entrevista, respondeu:
- Adoro cuidar do meu jardim.
Ela limitou-se a balançar a cabeça como num gesto de afirmação, próprio dos jornalistas, e se pôs a escutar sobre plantações de rosas, gramas e mudas de bromélias típicas no outono.
Parece que finalmente pode perceber além do profissional, um ser-humano como outro qualquer. Com certeza, aprendeu muito mais quando se propôs a simplesmente escutar sua fonte.

16 de março de 2009

O Pastor Amoroso de Fernando Pessoa

IV
Todos os dias agora acordo com alegria e pena.
Antigamente acordava sem sensação nenhuma; acordava.
Tenho alegria e pena porque perco o que sonho
E posso estar na realidade onde está o que sonho.
Não sei o que hei-de fazer das minhas sensações,
Não sei o que hei-de ser comigo.
Quero que ela me diga qualquer coisa para eu acordar de novo.

Quem ama é diferente de quem é.
É a mesma pessoa sem ninguém.
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=19803

8 de março de 2009


(Imagem gratuita daqui: Morguitefile)


No dia 8 de março, comemoramos o Dia Internacional da Mulher.
Muitos escritores de todo o mundo já celebraram, lindamente, essa data com textos que merecem ser lidos e relidos.
Mas hoje, especialmente para você, escolhemos apenas um. De uma mulher. De uma brasileira.
E das mais talentosas, por sinal.

Cecília Meireles, em Lua Adversa, o texto de hoje aqui do nosso blog, reconhece na mulher, a força e o brilho da lua. De suas fases, seus encantos e mistérios.
Esperamos que você, assim como nós, aprecie essa poesia com toda a beleza que ela traduz.


Lua Adversa (Cecília Meireles)

Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...


5 de março de 2009

Você gosta de cinema?

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Nós, aqui do "Novidades para você", adoramos.
Por isso, a dica de hoje tem o sabor especial de pipoca.
Trata-se do V Prêmio FIESP/SESI-SP do cinema paulista.
Com ENTRADA GRATUITA! E, você ainda pode ajudar a escolher os vencedores do prêmio.
Maravilha, né?


Estamos torcendo para que você consiga assistir aos filmes indicados abaixo.
Para conhecer melhor a programação, clique na imagem para ampliá-la, ou dê um pulinho neste site aqui.

Bom filme!

UPDATE: Aproveite para ler os nossos posts anteriores e fazer comentários. Adoramos comentários!


Fonte:
http://www.fiesp.com.br/cinema/

2 de março de 2009

Ser ou não ser um piruá?! Eis a questão...


Milho de Pipoca (Rubem Braga)

"A transformação do milho duro em pipoca macia é símbolo da grande transformação por que devem passar os homens.O milho de pipoca não é o que deve ser. Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro. O milho somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer.Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo. Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho para sempre. Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São pessoas de uma mesmice, uma dureza assombrosas. Só elas não percebem. Acham que o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser. Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos – Dor. Pode ser o fogo de fora: perder um amor, um filho, um amigo ou o emprego. Pode ser o fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão, doenças e sofrimentos cujas causas ignoramos. Há sempre o recurso do remédio, uma maneira de apagar o fogo. Sem fogo, o sofrimento diminui. E com isso, a possibilidade da grande transformação. Imagino que a pipoca dentro da panela, ficando cada vez mais quente, pensa que a sua hora chegou: vai morrer. Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não consegue imaginar destino diferente. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande transformação acontece: BUM! E ela aparece completamente diferente, como nunca havia sonhado. Piruá é o milho que se recusa a estourar. São aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem. A sua presunção e o medo são a dura casca que não estoura. O destino delas é triste. Ficarão duras a vida inteira. Não vão dar alegria para ninguém. Terminando o estouro alegre da pipoca, no fundo da panela ficam os piruás que não servem para nada. Seu destino é o lixo."
E aí, o que você pensa sobre o texto?
Por que você acredita que deve estourar como uma bela pipoca?
Regina

30 de janeiro de 2009

Dica de Filme














(Fonte: imagem do site oficial do filme)
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Quer se divertir?
Uma excelente dica para o final de semana é o filme Se eu fosse você 2.
Você prestigia o cinema nacional e ainda se diverte.

Bom final de semana!